Monday, February 25, 2008

É verdade... Estou aqui!

Estou em Portugal há já 15 dias!

Acho que está mais do que na hora de desenterrar a cabeça da areia e assumir que estou cá! Começar a viver para cá…apesar de saber e não querer nunca, jamais abandonar Moçambique. Apesar de acreditar que sempre estarei em Moçambique, rindo, observando, cantando, bailando… Ao som de batuques que anunciam dores e escondem sentimentos mas impõem ritmos que com alegria e entrega são obedecidos! Ao sabor de tantos frutos que a terra germina e entrega generosamente ao seu povo para se alimentar…

Vou sempre trazer comigo o chamamento das crianças através do olhar curioso que me observa, do sorriso matreiro que tenta dissimular, da aproximação tímida até à entrega total e generosa… As brincadeiras delas, encantadoras pela simplicidade…Os carrinhos feitos de restos de lixo, arames e latas da Coca-Cola, que orgulhosamente empurram enquanto se dirigem à padaria para comprar o pão… Os papagaios de sacos de plástico que erguem ao céu como se do seu próprio sonho de voar se tratasse… As suas canções e danças…A sua leve forma de ser, viver, estar..

Quando cheguei a Moçambique, há um ano atrás, pouco sabia sobre esta terra, sobre o seu povo. Hoje sinto que parte de mim é moçambicana….

Wednesday, February 6, 2008

Indefinições...

A dois dias de me despedir...Como me sinto?
Sinto que é impossivel despedir-me de um ano de VIDA....
Sinto que só posso recolher e guardar no meu coração todos os momentos que vivi...
Sinto que não sei como me sinto!
Mas que tudo valeu a pena!

Até já Portugal....SEMPRE COM MOÇAMBIQUE...

Partilhas....

Apesar de já não dar noticias há algum tempo, a verdade é que o último mês tem sido repleto de agradáveis surpresas, aventuras e visitas! E uma das grandes responsáveis por tudo isso foi a minha mana Lulinha, que desafiou tudo e veio até cá visitar-nos e partilhar connosco um pedacinho da nossa missão...Vejamos o que ela tem para nos dizer sobre a sua experiência:

"Só de pensar que podia não ter vindo... o tempo que aqui vivi não pode ser contabilizado por semanas, dias, horas, minutos ou segundos.... mas por sorrisos, abraços, tranças, canções e muita muita VIDA."

Kanimabo mana Lulinha!
A verdade é que ela veio trazer mais alegria, vida e leveza aos nossos dias e isso não se agradece, mas reconhece-se!

Não é dificil apaixonar-se por esta missão e por este moçambique que aqui descobrimos, quando temos o nosso coração aberto e com vontade de acolher e ser acolhido.... foi isso que me aconteceu a mim e é o que está a acontecer a Fátima e pode acontecer a qualaquer um de vocês, em qualquer lugar ou situação da vossa vida....

Thursday, December 20, 2007

Antes do Natal em Mo;ambique

Olá Amigos!

Espero que vivam este Natal com muita alegria!

Como sabem, eu este ano vou passar o meu Natal em Moçambique, num ambiente bem diferente porque se por um lado está um calor que em nada faz lembrar o Natal, também as pessoas vivem este tempo de uma forma muito mais simples. Tirando algumas publicidades na televisão que tentam imitar os moldes consumistas ocidentais, que apenas uma fatiazinha da população consegue seguir, a restante população vive este tempo de uma forma bem diferente de nós europeus.
Logo à partida, aqui em Moçambique existem em proporção mais ou menos tantos muçulmanos como cristãos, ora, para os Muçulmanos Jesus Cristo não é o Filho de Deus é apenas um bom profeta. Logo, aqui é feriado no dia 25 de Dezembro, não porque é Natal, mas porque o Governo instituiu neste dia o Dia da Família.
Os cristãos comemoram esta época salientando o essencial, celebrando o Nascimento de um menino, que é sinal de esperança para o Homem. Ao falar com as pessoas sente-se, talvez como herança da presença dos portugueses por cá por tantos anos, alguma preocupação em estar com a família neste dia, comprar algumas roupas novas, ou preparar algum alimento de forma mais especial. Mas é claro que mesmo isto é para uma outra fracção de uma outra classe social de moçambicanos, aqueles que ainda têm um emprego ou uma machamba que lhes garanta alguma subsistência! Porque para tantos outros, que ainda não sabem se terão alguma coisa que comer ou algum sitio para dormir nesta noite, para esses a palavra Natal, se não é desconhecida terá um sentido bem diferente… Mas é por esses mesmos que sinto que temos que fazer Natal. Temos que deixar Jesus nascer, temos que O acolher no nosso coração… e só assim poderemos ajudá-lo a nascer também em tantos corações solitários, em tantos homens desamparados, enfim… em cada esquina, cada soleira da porta, em cada hospital, centro de abrigo ou orfanato… em Maputo, Paris, Cuamba, Joanesburgo, Lisboa, Kinshasa ou Rio de Janeiro…

Estamos a menos de uma semana do Natal, e sinto-me tranquila, sem me preocupar em comprar o que quer que seja, sem me preocupar com o que vou comer ou receber nessa noite e só me lembrando que o Natal está aí à porta porque estamos a preparar uma festa de encerramento do Centro, onde faremos uma peça relacionada com o Nascimento de Cristo. Mas, mesmo assim, às vezes parece-me que ainda falta muito porque ainda é Verão e o Natal é no Inverno!
Ah! No outro dia vi um jovem empregado de um supermercado de indianos na cidade de Maputo, vestido de Pai Natal à entrada da loja. Confesso que me senti arrepiada ao imaginar o calor que aquele jovem estaria a sentir. Estão-se a imaginar num fato de lã polar debaixo de 40ºC? Não imaginem porque nada tem de agradável! É só mais um exemplo de que o Natal e os seus símbolos que o consumismo ocidental nos faz venerar, não deveria ser importado, mas infelizmente os chineses produzem fatos de Pai Natal e pinheiros de plástico suficientes para guarnecer a preço de saldo todo o mundo… E os comerciantes adoram e agradecem… Que fazer? Mais lixo menos lixo...

Em dias de chuva...

Uma visao geral do bairro das mahotas e da estrada que da acesso ao nosso centro em dias de chuva...

Dercia

As crianças crescem, o peso aumenta, as cadeiras de rodas ficam gastas…as mães começam a não ter como as trazer ao centro… Resultado: Ficam em casa.
Se as famílias são grandes ainda têm os irmãos com quem passam e convivem ao longo do dia, mesmo que fiquem mal alimentadas ou com menos higiene, ficam acompanhadas!
Mas, quando as famílias são pequenas e não irmãos, nem tios, nem avós…As mães têm que sair de manhã bem cedinho para trabalhar e as crianças estão condenadas a ficar em casa durante todo o dia, tendo como única companhia, um velho aparelho de rádio, que só funciona quando há meticais para comprar energia!
Conheço alguns casos assim aqui na vizinhança do centro.
O Bairro onde vivo, as Mahotas fica mesmo às portas de Maputo, a capital de Moçambique, no entanto, tirando uma estrada que já teve um dia alcatrão e hoje não é uma estrada com buracos, é uma buraco com vestígios de alcatrão, todas as outras ruas do bairro são de areia. Ora, não sei se já andaram de bicicleta na areia, ou tentaram empurrar uma cadeira de rodas nestas condições…? As rodas não giram, têm ser arrastadas, o esforço necessário para transportar um doente nestas condições triplica e as cadeiras ficam completamente desgastadas!
Nesta situação, quando as crianças crescem torna-se insuportável para as mães trazê-las ao centro e elas acabam por ter alta, e como não há alternativas, a esta situação, ficam em casa.
A Dércia está nesta situação (na verdade já nem é uma criança porque já tem cerca de 20 anos), é uma menina doente, tem paralisia cerebral, consegue movimentar-se só gatinhando e não tem coordenação motora… mas é muito inteligente, bonita, simpática e adora visitas. A mamã dela, a Carlota, é também doente e vive sozinha com esta filha. Para poder sustentar a casa precisa de trabalhar… Para não ser assaltada, precisa de trancar a porta de casa… E como não há mais ninguém em casa, a Dércia passa o dia inteiro sozinha, sentada numa esteira alimentando-se como é capaz…
Quando entro na pequenina e arranjadinha casa da Carlota e vejo a Dércia naquela esteira à entrada da porta, com um sorriso contagiante e uma alegria impressionante, fico completamente desarmada! Se por um lado, não consigo evitar sentir uma grande tristeza e revolta… por outro todas as minhas certezas anteriores começam a relativizar-se!
Penso: “Esta situação não é aceitável?!” “O que fazer para a ajudar?”
É que como já disse, estrada transitável por automóveis não há, mesmo fazendo um esforço extra para ela vir ao centro, ela já não é criança para frequentar o Centro Infantil e o Centro de Adultos não está preparado para receber utentes tão dependentes! Outras soluções?!
Em Maputo só existe um Hospital Psiquiátrico e eu já lá estive e já o vi e tenho a convicção que qualquer pessoa é mais feliz em sua casa, mesmo que só esteja acompanhada escassas horas por dia, do que num lugar como aquele!
Apesar de tudo a Dércia tem uma mamã que a adora, que lhe fala com carinho, que a faz sorrir! Ela frequentou durante alguns anos o Centro Infantil onde certamente aprendeu a estender aquele sorriso tão bonito, a comunicar através dele e através de gestos!
Pena parar este processo de reabilitação.
Mas… quantas Dércias haverá aqui nas Mahotas? Quantas que se calhar nunca foram tratadas como seres humanos? Quantas que foram abandonadas à nascença?! Quantas…?

Saturday, November 10, 2007

Música que por cá se faz (e diz)

Este post é dedicado a quem tanto gosta deste estilo de música (é especial para o Tiago, Isa e companhia... )!
Mas também é uma oprtunidade de conhecerem um pouco da música moçambicana!

Dêem uma espreitadela ao seguinte link:

http://youtube.com/watch?v=b9IwDjrUNTE

Espero que gostem!

Para a próxima veremos algo diferente (para os mais cotas:))!

Sunday, October 21, 2007

Hoje celebra-se o dia mundial das missões!

Celebramo-lo junto das crianças e adolescentes das comunidades nossas vizinhas!
Vivemos um excelente dia de partilha e convivio entre as diferentes comunidades missionárias!
As crianças são a grande paixão dos missionários e são a esperança da missão!
Esperamos que a alegria deste dia manifestada através das danças, da música e das cores seja força e ânimo para todos os missionários!
Parabéns a todos!
Kanimambo a todos os missionários pelo exemplo e acolhimento...

AMOR

Entre mim e Ti
O que há?
Se há prata não Te vejo
Se há vidro não Te posso tocar
Se nada há…
Como posso evitar
Abraçar-Te
Envolver-Te em meu ser
Embalar-Te no meu colo
Gravar-Te na minha mão?
Tu não és um apenas
Tu és Tu e o Outro e os Outros
Tu és Tanto e Tantos
Que me dás e me levam a Ti
Eu pego-lhes ao colo
E ao colo eles levam-me até Ti
Eu abraço-os
Mas o que sinto é o teu abraço!
Eu amo-os…
Mas eles… São eles que conhecem
O Amor
Porque Tu és o Amor
E eles vivem o verdadeiro Amor

Quem vê o sorriso, a gargalhada, a emoção de uma criança com atraso de desenvolvimento psicomotor, perante a chegada da sua mamã, pode ter a certeza de que estas crianças, podem não falar, não andar e até nem brincar…mas são felizes… Porque vivem no Amor. Elas são Amor!

“Cada Homem é uma Raça”

Li um livro do Mia Couto intitulado “Cada Homem é uma Raça”.
Gosto desta expressão. Acho que mata a sede a tantas ignorâncias instaladas. É tão importante aprender a falar no singular. Num singular bem pessoal: na Marisa, na Joana, no Sepúlveda, no Mia Couto… não nas raparigas, nos portugueses, nos negros, nos brancos… Tratemo-nos como pessoas únicas e chamemo-nos pelo nome próprio. Jesus chamou Maria pelo nome, só aí ela o reconheceu.Quando olho para o mundo e penso em Jesus, no seu agir, falar, intervir… recordo como a sua mensagem de inclusão, aos doentes, aos marginalizados, aos estrangeiros ainda hoje é incompreendida e necessária e renovo a minha fé na sua Verdade!

Em jeito de balanço…

Comecei há duas semanas a trabalhar no Centro de Reabilitação de adultos e a mudança para lá não foi (interiormente) pacífica… sentia-me muito bem (em casa) no Centro Infantil e foi um pouco complicado adaptar-me e encontrar o meu espaço no Centro de Adultos.
Apesar de já conhecer bem a dinâmica e actividades deste Centro, achei-me um pouco perdida, porque a dinâmica e rotina são totalmente diferentes daquelas a que estava habituada.
Hoje, no fim de duas semanas já sinto que também lá sou útil e que há muita coisa que poderei fazer! Gosto muito dos utentes e sinto que eles gostam de mim!
No entanto, tenho ainda o meu coração e pensamento muito presos às crianças e por isso queria partilhar sobre o que tem sido esta experiência para mim… Antes de seguir aviso apenas que foi tudo tão do campo dos sentimentos que temo que as palavras não ajudem muito… pelo contrário talvez até estorvem… mas vou tentar, porque sinto vontade de partilhar!

Antes de vir para Moçambique o meu contacto com crianças portadoras de deficiência, física o mental era praticamente nulo.
Já tinha feito campos de férias e outras actividades junto de doentes mentais, mas sempre adultos.
Quando cheguei e conheci o centro infantil e as suas crianças fiquei um pouco apreensiva. Não sabia até que ponto seria capaz de interagir com elas, que atitudes eram adequadas… via-as tão frágeis que pensava que qualquer coisinha as poderia ferir.
Não podia ainda imaginar o tesouro escondido nas paredes deste centro, e não fazia ideia de que esse tesouro não me estava interdito, era para mim… e com enorme generosidade foi-me oferecido a mim e a todos aqueles que abrem as janelas do seu coração para o apreciar…
Pouco a pouco… fui conhecendo cada nome por trás de cada rosto e cada pessoa por trás de cada nome. Pouco a pouco… fui aprendendo a conhecer cada um… A cada dia trazia para casa um pedacinho deste tesouro, escondido num sorriso, numa lágrima, num beijinho ou abraço!
Hoje eu conheço tão bem estas crianças que se dão tão simplesmente a quem as quiser amar. Sei o que as faz rir ou chorar, vejo-as para além das patologias que as marcam. Hoje o tesouro já nem é escondido…já nem é do centro…
A diferença é a essência do nosso tesouro.
Os mundos são muitos! Cada ser tem o seu!
As formas de agir são mais ainda!
Se alguns passam o dia com ar sereno, olhar atento e recorrente, reagindo a qualquer gesto de carinho e atenção… outros vivem agitados… outros fechados no seu mundo… Às vezes fico quieta… gosto de observar e imaginar o que se passa no mundo deles. Por vezes, parece que estabelecemos diálogos… conversamos mesmo, conversas sem fim, onde eu os descubro e eles me descobrem a mim… sem palavras… só olhares e sorrisos!
Muitas vezes me emocionei… muitas vezes ri com rizo de criança… muitas vezes me senti pequenina e pobrezinha perante tão grande riqueza!
Apetecia-me falar de cada um sem parar… apetecia-me contar-vos como me divirto e sinto feliz e realizada dando papinha ao Chelton, “tchovando” o Floriano no baloiço, ou jogando à bola com o Lewis…
Não sou mãe… mas sinto-me mãe das minhas “crianças”!

Mas o Centro Infantil acolhe ainda outro tipo de crianças… estas são muito vivas e cheias de energia, são crianças como todas as outras crianças… brincam, correm, falam, fazem birra, batem, choram, cantam, dançam, estudam, fazem teatro… Apenas um vírus as faz frequentar o Centro… um vírus que as obriga a tomar uma medicação diária, dir-se-ia demasiada para crianças tão novas, que ainda ninguém conhece os efeitos secundários… um vírus que lhes limita a esperança de vida… um vírus que elas não contraíram, herdaram! Estas crianças têm Sida e, se por um lado são para mim sinal de esperança, se são testemunho de que a Sida não impede de sorrir, desenvolver e aprender… são, por outro lado, a dor da minha alma… porque sofro ao imaginar que são tão susceptíveis e vulneráveis.
As crianças que chegam ao Centro com Sida vêm sempre desnutridas e demasiado subdesenvolvidas. Já tive oportunidade de ver a Lina o Márcio ou o Feliciano recuperar e desenvolver, mas também já vi crianças que não resistiram ao tratamento porque chegaram já demasiado mal!

Todas estas vivências, aliadas ao facto de a elas ter dedicado este tempo da minha vida, num país tão diferente do meu, com pessoas tão diferentes, fazem-me entender o mundo de uma outra forma! Se por um lado fazemos parte de um mundo global, que importa conhecer e reconhecer na sua diversidade, que se completa pela variedade, por outro lado o nosso pequeno mundo pessoal é tão importante… é ele que estará sempre connosco, para onde quer que vamos!

Wednesday, September 19, 2007

Mais um pouquinho...






Antes do regresso com a querida ir. Eni e ir. Fátima











Os belos e míticos embondeiros




















Praia do Winbi - Pemba
















Praia do Murrébué - Pemba








Ilha de Moçambique

Imagens de férias...Só um cheirinho...

Tofinho - Inhambane


Baía dos Cocos - Inhambane



Planícies - Sofala



Rio Zambeze - Caia

Catedral de Nampula

Peregrinas de férias...

Escrevo este texto hoje, sábado o dia em que regressei das minhas férias. Sinto-me muito contente por estar de volta e regressar ao meu trabalho e responsabilidades, mas também por ter tido esta oportunidade de viajar, de conhecer mais e melhor Moçambique e os moçambicanos.

Fizemos a viagem de Maputo a Cabo Delgado por terra. Parámos em Inhambane, Beira, Nampula, Carapira e Pemba. Um total de 2578 km de histórias, rostos, aromas, olhares, gestos, sabores, sentimentos, descobertas, sonhos, encontros…
Como viajamos de “chapa” e “machibombo”, os meios de transporte do “povo”, éramos sempre as únicas “mulungas ou mucunhas” a bordo. Pelo que, não passávamos nunca despercebidas. Os nossos companheiros de viagem foram sempre muito simpáticos connosco, ficavam sempre curiosos a nosso respeito, faziam algumas perguntas, mas pouco a pouco começavam a tratar-nos com naturalidade e acabavam por ser sempre por nos ajudar dando-nos dicas sobre transportes, horários e essas coisas… cada troço desta viagem tem assim, algum rosto especial, ou pela simpatia, ou pela empatia, ou pela simples partilha de momentos…
Moçambique é um país muito grande e, como não podia deixar de ser, grande é também a sua variedade cultural, paisagística e humana.
À medida que se avança do sul para o norte as diferenças vão-se acentuando. Até as construções das casas são diferentes consoante a província onde se está, por exemplo em Sofala e na Zambézia as casas são redondas. A forma de vestir e agir das pessoas é também diferente, as mulheres do norte são muito mais vaidosas e cuidadosas com o seu aspecto exterior (usam e abusam de piercings, tatuagens… são submetidas a ritos de iniciação durante a adolescência)! No norte há também muito mais muçulmanos o que influencia também a forma de agir, vestir e até a arquitectura das próprias cidades.

A nível de paisagens…há uma variedade infinita!

Vi praias desertas, rodeadas de verdes coqueiros. Vi praias de areia branca e águas límpidas transparentes. Vi extensões e extensões de terra coberta de coqueiros. Vi planícies enormes, cheias de mato seco, porque não chove há vários meses…vi montanhas e rios…vi baías lindíssimas (a de Pemba é espectacular, é 3ª maior baía do mundo)... vi baleias e flamingos! Andei de bicicleta na Zambézia, atravessei o Rio no batelão…

Mas o que gostei mais foi de conhecer outras missões, outras formas de agir, outras realidades.
Fui de certa forma peregrina e fui “batendo” de porta em porta. Parei em diferentes locais e em nenhum tive que dormir em hotel ou pensão.
A hospitalidade com que fomos acolhidas em todos os locais foi marcante, acho que pela primeira vez senti que realmente se pode aplicar o termo família quando se fala em comunidades religiosas e em Igreja Católica.
Nas diferentes cidades que mencionei, ficamos com diferentes comunidades de missionários, com diferentes estilos e carismas, mas cada qual com a sua forma particular de ser e estar na realidade em que é chamado a intervir!
Em Nampula descobri que a Juventude Hospitaleira é ainda um passado muito presente! Vi alguns meninos do Chacrimo e ouvi falar com tanta emoção do nome de tantos JH’s que por lá passaram… foi emocionante e bonito sentir o carinho que JH ainda desperta nesta cidade!
Gostei muito de reencontrar a minha amiga Sandra, leiga comboniana, que está muito feliz, numa missão muito bonita, presenteada todas as noites por um céu magnífico, em Carapira, na província de Nampula.
Gostei muito de conversar com as pessoas que fui encontrando pelo caminho, sobre a cultura, a história, a sociedade, a realidade do povo moçambicano…
Houve um Senhor que nos disse:”Em viagem aprende-se muita coisa…”! É uma grande verdade! A partilha de experiências, opiniões e conhecimentos é uma grande riqueza e é assim que me sinto no final de quase 15 dias em viagem: mais rica! E cheia de vontade de não perder essa riqueza, mas sim de a pôr a render nas minhas acções, na minha vida, no meu dia a dia!
Como dizia no início, estou também muito feliz por regressar à minha missão, porque é esta a razão de eu estar aqui em Moçambique e é para ela que eu quero viver e dar o meu melhor a cada dia!
Já tinha saudades das minhas crianças!
Agora estou também na expectativa de mais uma mudança, como atingimos o “meio” do nosso tempo de acção, é também tempo de balanço e de trocar de centro, irei agora trabalhar no Centro de Adultos e a Cristina no Centro Infantil, as exigências e necessidades serão agora outras, e é a essas que eu quero responder com alegria e dedicação!

15 dias na Matola

Durante o mês de Agosto, aproveitei a presença da Ana e da Vera cá nas Mahotas e fui dar uma mãozinha à Ir. Isabel e sua comunidade na Matola. Foi uma experiência diferente, pela primeira vez vivi só com irmãs... Mas gostei muito, valeu a pena, conheci melhor as crianças do Infantário, partilhei momentos bem divertidos com elas…



Esta foto foi tirada, durante um programa que a Rádio Moçambique fez directamente do Infantário, que foi muito bonito graças ao excelente trabalho que os professores de dança e música (Arone e Filipe) têm feito com as crianças…Uma grande alegria para a Ir. Isabel!!

Companheiras de Missão

Há pessoas que deixam pegadas nos nossos caminhos!

As pegadas que a Ana e a Vera deixaram marcarão sempre a história desta missão….


Obrigada por terem vindo!Foi muito bom poder partilhar convosco esta missão…

Sunday, July 29, 2007

Uma famíla moçambica...


Duas mamãs... onde está o papá?

Olá

Olá Pessoal…
Tenho faltado em notícias… Eu sei… Desculpem!
A vida por cá tem sido cheia de descobertas, de aprendizagens e crescimento…
Nem sempre é fácil com(viver) com tantas injustiças e desigualdades, mas sobressai sempre a esperança num amanhã melhor!
Entre o trabalho no CRPS, algumas visitas ao Infantário da Matola, alguns passeios e visitas por Moçambique e Maputo o tempo tem corrido… bem… se calhar voado… mas tem sido vivido e saboreado com muita alegria e disponibilidade!
Desde a última semana começamos um novo trabalho, vamos duas vezes por semana trabalhar com as crianças da Aldeia SOS. É um novo desafio, que está a ser muito bonito!
Entre tantas instituições que acolhem tantas crianças com diferentes tipos de problemas, encontramos, obviamente, desigualdades abismais…
A história que vos conto, não é verdadeira, mas é bem real, baseia-se em tantas vidas que tenho testemunhado…
Um beijinho muito grande para todos!
Marisa…

Podia ter conhecido...



Um dia conheci uma Menina.
Perguntei-lhe quem era…
Quem sou? Essa pergunta tem muitas respostas…
Sim? Conta lá então…quem és?
Hoje, sou esta menina que vês com teus olhos. Gosto de brincar, correr, estudar, comer…enfim…acho que gosto de tudo o que todos os meninos gostam…
Oh! Afinal a resposta era bem fácil…!
Eu ainda não acabei…
Desculpa, continua por favor!
Ontem, vivi numa pequena casa de caniço, vivia eu e os meus irmãos. Éramos muitos. Só um pai e duas mães. Aquela que era mesmo minha mãe, tinha mais 6 filhos mesmo dela, uma deficiente, a outra, que é mãe dos outros meus irmãos tinha 7 filhos e estava grávida, e também ela tinha uma filha deficiente. Como éramos tantos numa só casa de apenas 2 quartos e 1 cama, havia vezes em que eu e o meu mano íamos dormir em casa da minha tia…Porque estás com essa cara tão espantada? Pensas que eu era infeliz? Como poderia, com tantos vizinhos? éramos tantas crianças, brincávamos até tarde na areia, fazíamos papagaios com sacos de plástico e campeonatos de tudo e de nada…
E então, o que aconteceu?
Um dia de muito calor, brincava na rua com os meus amigos, começamos a ouvir uns aviões que faziam barulhos estranhos…De repente, toda a gente à nossa volta corria! Ainda nos começamos a rir: Parecia que de um momento para o outro todos tinham medo dos aviões… Ficou tudo muito confuso, as pessoas gritavam, corriam, eu não percebia nada… Depois, deixei de ver os meus amigos e já nem sabia onde estava. Só me lembro de alguém me dar a mão e gritar para eu correr! Tentei perguntar porquê, mais tarde pareceu-me que um avião caía perto de mim…fiquei com medo e fugi…fugi muito…ainda mais que todos os outros…
Desde esse dia ficaste perdida…
Ya! Devo ter desmaiado, alguém me levou para o hospital… passei lá uns bons dias… ninguém apareceu para me buscar… costumava aparecer por lá um papá mulungo muito simpático, vinha visitar outras crianças, que falava e brincava muito comigo…Lá no hospital perceberam que ele gostava de mim e mandaram-no levar-me! Fui até casa dele, lá viviam muitas pessoas, algumas já grandes…éramos cerca de 100! O papá mulungo era muito amigo de todos! Mas as titias… não faziam nada do que ele pedia… Lá viviam pessoas muito especiais…meninos sem mamã, sem papá, meninos doentes, mamãs doentes, vovós abandonadas e muito magrinhas… Já te contei que tinha duas manas deficientes? Nesta casa, viviam tantas crianças deficientes e tão mal cuidadas! Passavam os dias ao sol, com moscas na boca, sem ninguém para lhes mudar a fralda! Eu ficava tão triste! Decidi que tinha que fugir dali…Tinha pena de deixar o papá que era tão meu amigo…mas se eu ficasse ali morria de tristeza!
Fugiste?
Mais ou menos… o papá um dia veio ter comigo, tinha uns olhos muito tristes…disse-me que gostava muito de mim… mas que eu não podia ficar mais ali com ele…Vi-o tão triste, que nem consegui mostrar-lhe o quanto essa notícia aliviava o meu coração… mas ele deve ter percebido que eu gostara da notícia e sorriu… vai se bom para ti… disse-me sorrindo!
E pronto, despedimo-nos com um abraço muito apertado… acho que nunca ninguém me abraçara assim, aquele momento, aquele abraço ainda permanece comigo… sempre que estou aborrecida com alguma coisa, é nele que penso… e fico melhor!
Posso dizer que esse papá é o teu Anjo da Guarda?
Não sei o que isso será, mas parece-me simpático, sim, podes dizer…
Olha lá, já agora, posso saber o teu nome?
Não tenho um que seja meu… Sou… uma Menina Moçambicana!

Sunday, May 20, 2007

No entanto...


Toda a criança tem direito a sonhar…ninguém merece nascer num mundo onde já não lhe permitem sequer isso! Ninguém merece crescer com uma doença que lhe rouba o pai, a mãe, a avó, a irmã…A SIDA atinge proporções inimagináveis! Como pode uma menina viver sozinha com a mãe doente? Como pode uma jovem de 20 anos aguentar a sua doença, a doença da sua bebé e ainda ter força para enfrentar a morte iminente do seu marido? Como podem todos os dias aumentar o número de infectados, quando o assunto é falado a toda a hora na rádio, na televisão…Quando há cartazes alusivos à protecção em todo o lado? Como parar este flagelo?
Ideias precisam-se urgentemente! Muito urgentemente!