Parece-me tanta a VIDA

Vivo num local, que tem como banda sonora o chilrear das gargalhadas das crianças, que tem como cenário principal crianças correndo, brincando, sorrindo…em todo o lado… lá estão elas…escondem-se quando passo, espreitam…chamam: “Ermã”… crianças lançando os seus papagaios que vêem voar…que aprendem a libertar…que sabem fazê-los subir alto, bem alto… como são felizes, correndo descalças, libertando o cordel do papagaio…enquanto ele voa… o mundo é delas… são livres… não há fome, não há derrotas, não há qualquer mal… só elas, o céu e aquele plástico mágico em forma de losango, que voa… voa... voa! Mas o céu já não é só delas, alguém o invadiu atravessando-o por fios de electricidade e telefone que estão também em toda a parte e lhes roubam os sonhos, o prazer da liberdade…atraem os papagaios e prendem-nos sem mais os deixarem soltar!
Assim, no bairro das Mahotas, um magnifico espectáculo de papagaios de plástico que preenchem o céu, enchendo-o de cor e alegria, convive diariamente com um outro espectáculo bem mais triste e cinzento, onde restos de plástico, que um dia foram belos e voaram, se encontram presos sem qualquer futuro, sonho ou beleza, em tudo quanto é fio condutor aéreo!
Penso nestes papagaios… nas crianças que os fizeram…nos seus sonhos, motivações e expectativas, nos seus futuros… Quando vejo o fim triste dos papagaios… quero acreditar que não será assim com os seus donos... Vejo como eles recomeçam e logo inventam nova brincadeira… Escuto a música das suas brincadeiras… Parece-me tanta a VIDA!