Peregrinação a Marracuene

Desde as oito da manhã de domingo até à uma da tarde várias centenas de jovens peregrinaram cerca de trinta quilómetros até Marracuene, uma pequena e simpática vila da província de Maputo. Entre eles lá ia eu…cheia de vontade de beber do entusiasmo que estes jovens colocavam nesta peregrinação! O tema de reflexão foi a mensagem do papa para a Quaresma: “Hão-de olhar para aquele que trespassaram” e cada grupo de jovens, de diferentes comunidades e paróquias ia apresentando uma reflexão feita sobre as palavras de Jesus durante o seu calvário!
Em Moçambique a comunidade católica é uma minoria, existem diversas e variadas religiões para todos os gostos e feitios e, talvez por isso, tão grande número de jovens a peregrinar por livre e espontânea vontade com verdadeira alegria e entusiasmo é ainda mais marcante e significativo! A música sempre presente, os sorrisos, as brincadeiras…a jovialidade, a irreverência da juventude fizeram esquecer facilmente os quilómetros, porque o mais importante não era a chegada mas o caminho…o caminho que fizemos juntos!
A presença de Deus, um Deus que deu a vida por nós e nos convida a dar a nossa foi constante…nas paisagens moçambicanas, nas pessoas, nas músicas…
Um dos momentos mais marcantes e o auge de exteriorização da fé alegre e juvenil foi a Eucaristia na paróquia de Marracuene. O pároco é italiano e falou-nos de forma directa e frontal. Disse que Moçambique era dos países mais jovens do mundo, no entanto estava a ficar velho…incitou os jovens, mais directamente os moçambicanos, a questionarem-se sobre o seu papel neste mundo, a comunicarem e aconselharem-se uns aos outros, pediu-lhes que procurassem conhecer o evangelho de Jesus Cristo na integridade e que manifestassem a sua fé em obras! Segundo ele estes quatro pontos são solução para combater o dito “envelhecimento”, isto porque quem não se questiona, quem não se aconselha e já sabe tudo o que há para aprender tem que ser “velho”… Ao meu lado estava um rapaz que teria talvez uns dezoito anos e durante o sermão do padre, tirou um pequeno papel e caneta do bolso e foi tirando notas do que ia escutando!
No momento de acção de graças cada grupo apresentou o seu compromisso de fé (renúncia quaresmal) para este ano. Após este momento cantaram um cântico em dialecto local de uma forma completamente apoteótica, bateram palmas, dançaram, “gritaram” (um grito que fazem espontaneamente como forma de louvor), durante muito tempo…foi um momento lindo que não consigo encontrar palavras para descrever, só vivido mesmo! Não sei precisar o tempo que demorou esta Eucaristia, mas o certo é que durante este dia o tempo foi o factor com menos importância…Após uma caminhada de várias horas não interessava manifestar cansaço interessava sim dispor o nosso tempo para louvar a Deus, o grande Motivo de tamanha congregação.
O campo das emoções é sempre vasto e misterioso…mas a alegria e serenidade que senti no final deste dia expressaram bem a riqueza vivida da comunhão com Deus e com os meus irmãos…
Por tudo isso Kanimambo!